Opa! Deixa eu me apresentar primeiro.
Olá, eu sou a Tais. Você não me vê, mas eu sou uma mulher. Eu sou branca, tenho o cabelo castanho, uso uma franjinha e tenho as sobrancelhas bem grossas.
Quero te contar uma história. Uma história de cinco pessoas e que ainda não tem um fim.
Tudo começou lá em 2018, quando a Rê, uma mulher jovem muito espirituosa, de cabelos curtos, castanhos, e uma bochecha enorme, teve a ideia de fazer uma apresentação junto com o Rô, um homem jovem, criativo, curioso, de cabelos cacheados e um sorriso largo.
Mas essa apresentação foi na verdade uma brincadeira. Foi uma invenção dançada ou uma dança inventada, em que todo mundo pudesse virar artista e pasmem, sem precisar ensaiar. Onde o sapateado fosse compreendido por todos, até por aqueles que não pudessem escutá-lo.
Foi assim que tudo começou: brincando, repetindo, transformando e aprendendo Libras, a língua brasileira de sinais.
Esse é o Rô dançando na penumbra do palco. Sorrindo, ele bate uma vez o pé direito, Três vezes o pé esquerdo e estala os dedos das mãos próximas ao rosto.
A terceira pessoa sou eu! Sim, também faço parte dessa história.
Eu cheguei muito entusiasmada em trabalhar com uma Companhia que usa essencialmente o sapateado para se expressar e leva essa linguagem muito além da dança.
Justo o sapateado! Linguagem que eu pratiquei durante anos e anos da minha vida e que foi o meu primeiro contato com a música que se faz com o corpo.
Mas pode fazer música com o corpo? Claro que sim! A música do corpo é um brinquedo que qualquer pessoa pode levar para onde quiser. Ela também é um jeito de se comunicar, de se conhecer e de conhecer o outro. Podem acontecer coisas inesperadas, curiosas ou até mesmo engraçadas quando tocamos juntos os sons do corpo.
Como nesse trecho do espetáculo, com a Rê e o Rô sapateando lado a lado, sob dois focos de luz.
Lembra que eu disse no começo que essa é uma história sem fim?
Então, não podemos prever exatamente o futuro, mas um dos nossos planos é incluir um recurso chamado audiodescrição. Tem muita gente que ainda não conhece esse recurso. Ele serve para que pessoas não videntes construam em seu imaginário uma experiência. E pra quem pode enxergar, essa linguagem chega como mais uma forma de sentir o momento.
Ah, já ia me esquecendo!
Nosso outro plano é fazer com que essa brincadeira seja um espetáculo para crianças de todas as idades: de zero a cem anos.
Que seja plural, pensante, dançante e divertido.
Nessa cena a Rê dança interagindo com a plateia. Usa macacão curto e largo, na cor rosa com detalhes em verde e amarelo. Ela sapateia, ergue os braços e bate palma no alto.
Gira sapateando e bate as mãos no peito. Gira novamente e bate as mãos nas coxas.
Nesse momento você deve estar se perguntando quem são as outras duas pessoas.
Bom, a quarta pessoa é a Ana. Uma menina levada, que consegue ser calma e agitada ao mesmo tempo. Com seu jeito fofo e frenético, ela vai chegar contando tudo o que está acontecendo pra todo mundo por meio da audiodescrição.
E a quinta pessoa? A quinta pessoa é você!
Você é a parte mais importante desta história.
Um personagem que pode mudar ou até mesmo criar novas histórias! A única regra é brincar!
Brincar com gestos, toques, movimentos, silêncios e sons e assim aprender diferentes formas de se comunicar.
No galpão, Rê e Rô batalham frente a frente. Sorriem. No palco, os dois sapateiam e dançam sincronizados. Rodopiam. Agradecem em Libras e balançam as mãos no alto.
Tenho certeza de que nós cinco sairemos diferentes dessa experiência.
E sabe o que mais? Essa história não tem fim, mas uma coisa eu tenho certeza:
Eu não dançarei sem você.
Projeto realizado com o apoio do Ministério do Turismo, Secretária Especial da Cultura, Lei Aldir Blanc e Governo do estado de São Paulo.